terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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De novo o jornalismo (uma falsa polémica, e 2)

Portugal tem um problema de base para os media, nomeadamente os escritos - a falta de mercado. Não existem hábitos de leitura e as televisões papam a publicidade toda.
Daí que o mercado esteja totalmente distorcido, ou, pior, nem seja possível falar de mercado.
Como é possível que se continuem a publicar jornais que dão prejuízo? Como é possível que, para crescer umas migalhas nas audiências e nas vendas, se invistam rios de dinheiro em marketing? Como é possível ter redacções com mais de 100 jornalistas (e falo em jornalistas apenas) para fazer jornais com médias de vendas nos 40 mil exemplares e sem publicidade que se veja?
Obviamente, as sinergias dentro dos grupos são uma das vias para a sobrevivência, a curto prazo, mas nada resolvem a médio ou a longo - a indiferenciação dos conteúdos conduz inevitavelmente à irrelevância do produto.
Outra das vias para sobreviver é inundar as redacções de jovens a ganhar o ordenado mínimo - são bem-mandados, mas, por mais estudos que tenham, falta-lhe quase tudo para fazerem jornalismo, uma profissão em que a experiência é determinante.
HG assegura-me que nunca houve nas redacções gente tão bem preparada. Do ponto de vista técnico, acrescenta. Até poderia concordar. Mas não é bem assim - a muitos desses ases da técnica falta-lhe um mínimo de cultura geral e cívica para saberem o que estão a fazer.
Façamos de conta - seguindo o exemplo do Mário Crespo... - que um bom jornalista da área da economia decide escreve sobre as grandes obras públicas (tem acontecido...). Conclusão inevitável (tem sido manchete): o país não tem capacidade financeira. Isto até é interessante, porque tal afirmação coincide com a agenda da oposição e, portanto, alimenta a polémica e vende (venderá?) jornal.
Mas isso é apenas uma pequeníssima vertente da questão. As estradas, por exemplo, não são meros incidentes financeiros e os famosos estudos custo/benefício têm de ter em conta uma multiplicidade e complexidade de aspectos que nunca vi abordados na Imprensa. Os estudos do Governo estão disponíveis (podem ser criticáveis...), mas nem um único jornal lhes pegou. Ou, em alternativa, nem um único jornal se preocupou em "levantar o cu da cadeira" e ir falar com autarquias, associações empresariais e outras, na tentativa de completar o grosseiro (e quantas vezes equívoco) retrato financeiro que traçaram.
E isto é um mero exemplo (que tentei descontextualizar tanto quanto pude...). Mas todos os dias vejo nos jornais informação (muito) errada sobre questões (muito) sensíveis. E todos os dias vejo assuntos tratados com excessiva superficialidade, mesmo leviandade, ao sabor dos sound bites de uns e outros, ou simplesmente ao sabor das "ideias" da pessoa com quem o director almoçou nesse dia.
É por isso que acho, e insisto, que o jornalismo português está hoje transformado numa insípida pastilha elástica, que se mastiga e deita fora, sem deixar marca ou causar consequências.
Um jornalismo assim não serve a democracia, que essa é, sim, a sua principal função.

2 comentários:

  1. Caro LPedo Machado, o post é sobre jornalismo e não sobre obras públicas, não sei se percebeu... O que eu escrevi é que a abordagem dos media - eventualmente por preguiça ou falta de meios - acaba por coincidir com a agenda da oposição. E isso é um facto... Se eu quisesse discutir obras públicas teria discutido obras públicas, mas eu estava a discutir jornalismo. Da próxima vez que pretender discutir alhos quando eu estiver a discutir bugalhos, agradeço que se dirija a outro guichet.
    Ah... é verdade, os meus posts seguem a agenda do Governo, assumidamente. Conhece algum jornal que siga ASSUMIDAMENTE a agenda da oposição?

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