sábado, 21 de fevereiro de 2009

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Estive a arrumar papéis e a endereçar à reciclagem uma data de coisas que se acumularam nos últimos dias. Entre essa papelada, um P2 (suplemento do Público), de que constam quatro páginas, assinadas pelo director, sobre uma fundação paga por Soares dos Santos, com os lucros do Pingo Doce, e animada superiormente por António Barreto, sociólogo. Muito haveria a dizer sobre isto, a começar pelo título: "think thank"?
Prendi-me numas frases enigmáticas, mas que presumo sejam programáticas, dos dois patronos:
- "Já contamos com especulações sobre o que é que nós queremos com estes projectos", diz António Barreto.
- "E os políticos não vão gostar. Já fui avisado para me preparar para uma reacção violenta", clarifica Soares dos Santos.

Descontemos a soberba e o ridículo destas afirmações, proferidas por quem não tem nada para mostrar, a não ser intenções.
Considero particularmente preocupante o espírito de trincheira, quixotesco, com que se fala de uma coisa que deveria ser, em primeira instância, dedicada ao bem público e que, por isso mesmo, deveria começar com uma atitude mais open minded.

Portugal tem actualmente duas grandes fundações. A Gulbenkian nunca precisou de criticar ou bajular os poderes para se ter transformado naquilo que é hoje - em muitos aspectos, substitui os Ministérios da Cultura e da Ciência. Sem ondas. Trabalhando e mostrando trabalho.
E temos a Champalimaud, ainda a dar os primeiros passos. Já criou um prémio internacional de prestígio. E está a construir uma sede que, pelo que conheço, será uma referência pelo menos em dois aspectos: um pólo de atracção de inteligência e investigação internacional; terá um dos edifícios mais belos de Lisboa e, em simultâneo, devolverá aos lisboetas uma faixa de centenas de metros de frente de rio, hoje vedada, com uma das vistas mais espectaculares da frente ribeirinha. Também esta fundação não precisou de andar por aí aos gritos para se impor. Parece-me estar a seguir o exemplo da Gulbenkian - trabalhar para depois mostrar o trabalho.

A fundação Pingo Doce/Barreto parece querer fazer o caminho inverso. É contra. Por definição, é contra. Pode ser um caminho interessante, mas duvido. Insisto: este tipo de fundações, feitas à base de doação de dinheiros ganhos à nossa conta, deveriam guiar-se por princípios de bem comum e, por isso, estarem abertas aos contributos da sociedade civil, mas também dos poderes, enfim, de todos. Sem preconceitos e sem espírito de trincheira.

Assim, e tendo em conta os escritos de Barreto e as declarações mais recentes de Soares dos Santos, parece-me que, em vez de erigirem uma fundação, ficar-lhes-ia mais barato fazer um serviço de recortes de imprensa.

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