sábado, 28 de fevereiro de 2009

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Falávamos, salvo erro, de jornais e jornalistas famosos, quando, às tantas, atirei:
- Acho que estás a ser ingénuo, o gajo é um mercenário...
- Sim, será. Mas é o nosso mercenário. Sabes, como naquela história do filho da puta. "O gajo é um filho da puta, mas é o nosso filho da puta..."
- Hum... Não estaria tão descansado. Por definição, nunca podemos chamar nosso a um mercenário.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

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Volta Joana, estás perdoada

Desde que foi saneada no Bloco, Joana Amaral Dias tem sido mais frequente no Bicho Carpinteiro. Além do Bloco, ninguém ganhou grande coisa com a troca.

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Banda sonora para a próxima estação




Zeca Afonso, Charlie Haden, Carla Bley, José Sócrates

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Umas horas antes dos Oscars fui ver o tal filme do indiano que queria ficar milionário. Depois, li o que por aí se disse. Parece que o pessoal, a começar pelos críticos, está um bocado zangado. Ainda bem que não percebo nada de cinema.

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Imagino já o coro de indignados com a frase de José Sócrates: "Em democracia, quem governa é quem o povo escolhe...".
Os comentadores têm pasto para muitos dias. Meu Deus, que ele falou num caso que está em investigação na justiça. E é a justiça que há-de julgar, meu Deus. E o povo, meu Deus, não se sobrepõe à lei. E, ai meu Deus, isto é populismo no seu pior.
Os comentadores adoram armar-se em anjinhos. Eles estão fartos de saber que Sócrates não falava disso. Porque não é isso que está.

[Act. sábado à tarde:
ainda pensei em mostrar aqui um ou dois exemplos do que acima está escrito. Desisti - é disso mesmo que falam todos os do costume e até os outros. Basta ver os blogues, as televisões... os jornais de amanhã.]

[Act. sábado à noite: Eis um bom resumo.]

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In the absence of your touch
And in the absence of loved ones
I have decided I’m throwing my arms around all of paris because only stone and steel accept my love
In the absence of your smiling face
I traveled all over the place
and I have decided I’m throwing my arms around all of paris because only stone and steel accept my love
I’m throwing my arms around all of paris because only stone and steel accept my love.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

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A Quadratura da TVI-24 tem nome de programa de futebol (ou será ciclismo?) e tem o Vital Moreira e o Vasco Pulido Valente.
É um exercício interessante - parece feito à medida para demonstrar a diferença entre o opinador informado e o fulano que só manda umas bocas.

Apostilha: uma das coisas mais divertidas foi o barafustar de VPV a exigir que a Caixa explique publicamente e claramente todos os negócios que faz, a começar pelo da Cimpor/Manuel Fino; o mesmo VPV que, há umas semanas, barafustava em sentido contrário em frente àquela senhora que apresenta uma coisa às sextas-feiras pelas oito da noite - que não, que a Caixa é um banco e, como tal, não tem nada que dar conta pública das relações com os seus clientes. De cair da cadeira. Literalmente.

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Não sei por onde andei entre 1982 e 87. Sei, mas por uma questão meramente estilística dá-me mais jeito fazer de conta. A verdade é que os Smiths me passaram completamente ao largo. E isso é um problema. Só não o é totalmente, porque, contas bem espremidas, há um ligeiro deslizamento geracional que me permite apresentar álibi. Talvez por me terem passado ao largo na altura certa, os Smiths não me dizem grande coisa.
Já Morrissey é outra coisa. Um dia explico porquê, se até lá encontrar explicação.
Este vídeo é do último disco. O gajo 'tá velho como o caraças...

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À atenção dos casais...


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Dizem-me que sou demasiado pessimista sobre o jornalismo que se pratica em Portugal.
Talvez...

Eis um exemplo.
O jornalista Hugo Beleza, do Portugal Diário, assina uma peça sobre o debate quinzenal no Parlamento com o primeiro-ministro. Junto à assinatura, faz questão de salientar que "esteve no local", mas logo ressalva que "acompanhou o debate em directo a partir do Twitter" (???). Mais intrigante é que, tendo estado no local, o lead da peça seja feito com... uma citação da Lusa.
Resultado de toda esta pessegada:
- o título: Sócrates «criou um tabu» sobre o Freeport
- no texto, fica claro que essa foi uma acusação feita por um deputado de um partido de nome estranho (Verdes?) e que Sócrates, desmentindo a ideia do "tabu", respondeu às tais "responsabilidades políticas" de que falava o deputado verde.

Este é o tipo de jornalismo de que muitas pessoas gostam. Câmara de eco (da oposição, ainda melhor...). Ahhh... e não pensem que é apenas nos jornais virtuais.

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O sexismo ataca onde menos se espera. Numa movimentada rua de Lisboa, este barbeiro deixa claro que "senhoras, só cortes". Ignoro se abrem excepções para mulheres de barba rija.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

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Um dos efeitos secundários mais perversos das leituras e extrapolações empolgadas de certos leitores compulsivos de jornais é o acantonamento dos jornalistas e, consequentemente, uma forte redução da sua liberdade.
Por exemplo, ao Pedro Sales ocorre que os jornalistas apenas podem fazer ao primeiro-ministro as mesmas perguntas da oposição, ou, em alternativa, as "estimulantes questões" de Alberto Martins.
Eu, antiquado que sou, preferia que os jornalistas não fizessem figuras de parvos ou de papagaios e fizessem o seu trabalho - fazer perguntas de... jornalistas.

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gajos destes aparece aí um por década



há dias, caiu-me em cima da mesa o disco de 2008 do gajo (terá mais? é coisa que vou ver depois). com o título fabuloso de i started out with nothing and i still got most of it left. fabuloso.



[O que os blogues têm de mau é isto. Um fulano não pode fingir que descobre coisas. Há sempre alguém que vem logo de dedo no ar: "Eu vi primeiro, eu vi primeiro...". Pronto, no Câmara Corporativa este "ganda maluco" está a rodar há umas semanas, ainda para mais na famosa série do Black Cab... E agora têm lá outro catita, que vou ouvir, já sem poder fingir: "Olhem que coisa mais maluca que eu descobri...". Pfff...]

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Nota mental: tenho duas ou três portas a ranger. Precisam de óleo.

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Downgrading (*)

Título do Expresso de 21 Fev 09:
Zon Net desafia lei da gravidade.

Título do Diário Económico de 25 Fev 09:
Zon promete voar na internet.

[* a propósito do lançamento do serviço 100 Megas]

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Coisas realmente importantes

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

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Louvor à polícia de Braga

Parece-me evidente que os agentes da autoridade estariam imbuídos de um alto espírito de modernidade... que é de saudar, por tão raro entre quem nos guarda. Bem hajam.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

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Há uns dias, coloquei esta música na grafonola cá do blogue



e pensava eu que teria alguns comentários (na realidade, tive, mas por "motivos técnicos"...). Quer isto dizer que tenho leitores muito jovens, de fraca memória, ou no 'leitores' at all?

Este tema era o genérico do programa Dois Pontos, na viragem dos anos 70 para os 80, no antigo Programa 4 da RDP, mais tarde Rádio Comercial.
Era em FM Estéreo, novidade à época, e foi nele que gravei as primeiras cassetes audio. Foi nele, penso, que me formei musicalmente.
O Dois Pontos seria hoje um programa impossível - passava discos inteiros (no tempo dos LP...), sem anúncios nem gente a falar por cima. E às vezes chegava a fazer ciclos - era possível gravar (em boas condições, quando o emissor assim o deixava, o que era raro) a discografia completa dos Doors, dos Pink Floyd, os melhores discos dos Stones. Foi aí que ouvi, pela primeira vez, Randy Newman, Genesis, Fats Domino, The Who. Tenho ainda algumas "jóias" em cassete...
O programa teve alguns anos (poucos) e ia mudando de estilo conforme mudava de apresentador. Uma enciclopédia ao vivo (vale a pena recordar que, nessa altura, numa pequena cidade de província, mal havia gira-discos, quanto mais discos... quanto mais para um adolescente de uma família remediada).

Lembrei-me do Dois Pontos porque a Rádio Comercial parece que está a fazer anos e pede aos ouvintes as suas melhores memórias.
Da Rádio Comercial tenho boas e más. Ficam para outra altura. Hoje apeteceu-me falar das memórias da pré-História da Rádio Comercial.

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Vivemos tempos estranhos, de facto.

O IGESPAR, instituto público que zela pelo património nacional, exige dos seus técnicos que obedeçam às regras superiormente estipuladas.

Coloquemos a coisa no plano abstracto - uma entidade contrata técnicos para trabalharem tecnicamente de forma a concretizar os objectivos a que essa mesma entidade se dedica.

Por exemplo - a SIC tem uma linha editorial e exige dos seus jornalistas que a concretizem. Tem, para isso, estatuto editorial, livro de estilo, política de contratação, regras de avaliação profissional, incentiva os que não gostam da linha editorial a sairem.

Voltemos ao IGESPAR. Pago pelos contribuintes, deve administrar os bens públicos de forma ainda mais criteriosa. Obedece, em última instância, à vontade de todos nós, ao dinheiro de todos nós, ao voto de todos nós.

O IGESPAR, através dos seus órgãos próprios, determina que a prioridade é a conservação da arte romana e não da arte grega? Não faz sentido que um dos seus técnicos, em representação do IGESPAR, por actos ou opiniões, sobrevalorize a arte grega face à arte romana. Cristalino!

Vivemos tempos estranhos, de facto. Em que uma história destas é notícia.

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Não há estado de maior solidão que a dúvida.

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domingo, 22 de fevereiro de 2009

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1 min 27 seg

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O jornalismo de investigação em Portugal é hoje uma subdisciplina da genealogia.

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[a audição integral de algumas canções neste serviço imeem exige pré-inscrição. é fácil, é grátis e, como algumas vacinas, só é necessário fazer uma vez]



I was a fan and I still really am
singing along to my favourite song
greatest thing I've heard
but I didn't get a word

j'ai écouté toutes ces chansons françaises
je ne savais pas ce qu'est une javanaise
un poinçonneur des lilas
ça veut dire quoi

I studied the booklet and searched for a sign
made up a meaning for every line
and a four letter word
l.o.v.e

j'ai écouté allongé sur mon lit
avec le temps alors tout s'évanouit
c'est quoi un cheval fourbu
j'ai jamais su

oh mon amour
je t'aime toujours
tu es partie
mon bonheur aussi

I was a fan and I still really am
singing along to my favourite song
une poupée de cire
qu'est-ce que ça voulait dire

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ainda hoje, gostava de lhes ver a pele esticada a secar ao sol

quis o destino, chamemos-lhe assim, que o mínimo fevereiro passasse a assinalar no meu calendário pessoal uns marcos que obrigam a balanços e balancetes.
a vida vai-se vivendo e a importância das coisas balança com a maré.
fujo, por isso, a julgamentos definitivos. até porque, lá está, a vida vai-se encarregando de balancear, ela própria, o nosso destino. desvalorizo e relativizo, pois.
isso é uma coisa.
outra é a ignomínia por detrás de alguns gestos.

é por isso que ainda hoje

sábado, 21 de fevereiro de 2009

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Estive a arrumar papéis e a endereçar à reciclagem uma data de coisas que se acumularam nos últimos dias. Entre essa papelada, um P2 (suplemento do Público), de que constam quatro páginas, assinadas pelo director, sobre uma fundação paga por Soares dos Santos, com os lucros do Pingo Doce, e animada superiormente por António Barreto, sociólogo. Muito haveria a dizer sobre isto, a começar pelo título: "think thank"?
Prendi-me numas frases enigmáticas, mas que presumo sejam programáticas, dos dois patronos:
- "Já contamos com especulações sobre o que é que nós queremos com estes projectos", diz António Barreto.
- "E os políticos não vão gostar. Já fui avisado para me preparar para uma reacção violenta", clarifica Soares dos Santos.

Descontemos a soberba e o ridículo destas afirmações, proferidas por quem não tem nada para mostrar, a não ser intenções.
Considero particularmente preocupante o espírito de trincheira, quixotesco, com que se fala de uma coisa que deveria ser, em primeira instância, dedicada ao bem público e que, por isso mesmo, deveria começar com uma atitude mais open minded.

Portugal tem actualmente duas grandes fundações. A Gulbenkian nunca precisou de criticar ou bajular os poderes para se ter transformado naquilo que é hoje - em muitos aspectos, substitui os Ministérios da Cultura e da Ciência. Sem ondas. Trabalhando e mostrando trabalho.
E temos a Champalimaud, ainda a dar os primeiros passos. Já criou um prémio internacional de prestígio. E está a construir uma sede que, pelo que conheço, será uma referência pelo menos em dois aspectos: um pólo de atracção de inteligência e investigação internacional; terá um dos edifícios mais belos de Lisboa e, em simultâneo, devolverá aos lisboetas uma faixa de centenas de metros de frente de rio, hoje vedada, com uma das vistas mais espectaculares da frente ribeirinha. Também esta fundação não precisou de andar por aí aos gritos para se impor. Parece-me estar a seguir o exemplo da Gulbenkian - trabalhar para depois mostrar o trabalho.

A fundação Pingo Doce/Barreto parece querer fazer o caminho inverso. É contra. Por definição, é contra. Pode ser um caminho interessante, mas duvido. Insisto: este tipo de fundações, feitas à base de doação de dinheiros ganhos à nossa conta, deveriam guiar-se por princípios de bem comum e, por isso, estarem abertas aos contributos da sociedade civil, mas também dos poderes, enfim, de todos. Sem preconceitos e sem espírito de trincheira.

Assim, e tendo em conta os escritos de Barreto e as declarações mais recentes de Soares dos Santos, parece-me que, em vez de erigirem uma fundação, ficar-lhes-ia mais barato fazer um serviço de recortes de imprensa.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

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A fotografia pode ser a maior mentira do mundo.
Por exemplo, esta foi tirada hoje, durante uma muito agradável, e improvável, conversa acerca dos benefícios do mar na lavagem das almas.
Porém, quem assistisse de longe seguramente diria que nada naquela circunstância concreta batia certo.
O mundo vai tendo, felizmente, mais harmonias que aquelas que vemos à vista desarmada na monotonia dos dias.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

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Não me lembro de alguma vez ter tido um pensamento profundo em frente ao espelho enquanto me barbeio.

Penso às vezes, nunca em frente ao espelho enquanto me barbeio, que sou do tipo de pessoas que devia ter pensamentos profundos em frente ao espelho enquanto me barbeio.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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No blogue Manchas, Luís Mourão escreveu três posts seguidos notáveis.
Se me permitem:

1.
Como se despoja um blog? (...) Resta o lance difícil: deixar de querer que alguém perceba o que quer que seja das nossas decisões.

2.
o jarrett é um improvisador
improvisa tão completamente
que chega a improvisar que é
[melodia
a melodia deveras existente

3.
O pensamento não vive da pressa, mas do espaço à volta para ressoar, remoer, re-pensar — e num blog não há espaço à volta.


Obrigado.

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Última Hora
A SIC acaba de anunciar ao mundo que o tio de José Sócrates está em casa. A informação, relevante, terá sido fornecida por uma fisioterapeuta.

Actualização umas horas depois:
afinal, o senhor perdeu um cão.
Segunda actualização: por entre a parafernália de questões pertinentes dos jornalistas, tinha-me escapado o essencial - o cão chama-se Napoleão e é um "dogue francês". E, como este é um blogue que se orgulha de fazer algum serviço público, deixo aqui o apelo lançado pelo advogado Sá Leão (the name rings a bell...) - os senhores jornalistas bem que podiam colaborar na busca do Napoleão...
Terceira actualização (à laia de pista): haverá alguma relação entre a presença da fisioterapeuta e o desaparecimento do Napoleão?

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

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controversa maresia & mátria minha

gosto muito de ler estas duas meninas (se quiserem), ou senhoras (se preferirem). escrevem (muito) bem e dizem coisas acertadas (sem "muito", que nunca as vi ganharem o euromilhões...). mas, às vezes, faço um jogo secreto: no sítio em que está um "nós" feminino, experimento um "eu" (que posso eu falar de outros?) masculino. às vezes calha bem, outras nem tanto.
o eterno jogo do "mostras a tua que depois mostro a minha" que prolongamos pela vida fora, intelectualizando pois claro, tem a sua graça muito própria. quando jogado assim, sem intuitos que não sejam os da sedução (sim, da sedução, que outra coisa não é). a sedução que centramos em nós próprios, sem necessária (mas sempre possível) existência de objecto receptor com endereço estabelecido. o caldo só entorna, e pela parte que me toca entorna cada vez mais, quando dessa pura e encantadora (de encantar, como fazem as serpentes) conversa se parte para um certo colectivismo. activismo, se quiserem.
e era isto que tinha a dizer, não me perguntem porquê.

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OOOOOOHHHHAAAAAA I WANNA TO BE WITH YOU EVERYWHERE....
o que eu me divirto a ouvir isto!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

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A Fox, a trituradora de séries, estava há pouco a passar o primeiro episódio de House. Cinco anos e os penteados estão fora de moda, as roupas um horror, da maquilhagem nem se fala. Episódio a cores, mas a denotar aquele amarelado das velhas fotos a preto e branco.
O que mais maravilha em House é que, ao contrário de muitas outras séries, soube envelhecer.
Tudo é agora mais depurado, tudo foi levado ao osso.
Algumas das séries de nova geração tendem a aparvalhar, a perder-se por caminhos não evidentes. Sete Palmos de Terra foi disso um bom exemplo. Sem perder interesse, a série foi-se ramificando, divergindo...
Com House, deu-se o processo inverso - um processo implosivo. Exploram-se os pequenos pormenores, os personagens ganham densidade, a trama torna-se claramente doentia, o cinismo é a única regra de vida. E, numa série de hospitais em que o maior doente é o médico, nada como aprofundar esse universo deliberadamente doentio.

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Coisas de espantar

Os putos mais criativos da actualidade revisitam um hit de uma das bandas mais divertidas de sempre.


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Há coisas assim:

- o presidente da Associação dos Cidadãos Automobilizados, Manuel João Ramos, ex-vereador na Câmara de Lisboa, disse há dias que os buracos que invadiram algumas ruas da cidade "têm um lado positivo, pelo efeito dissuasor da velocidade automóvel".

- o Museu Nacional da Imprensa anunciou hoje os vencedores do seu já tradicional Concurso Nacional de Textos de Amor.

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Em Abril de 2008, a Câmara de Lisboa, o Patriarcado e a Comunidade Judaica decidiram erguer, no Largo de São Domingos, três memoriais alusivos aos massacres de judeus na capital portuguesa em 1506. A CML optou por um mural onde se enaltece Lisboa enquanto "cidade cosmopolita, multiétnica e multicultural", enfim, "cidade da tolerância". Eis o mural, hoje, Fevereiro de 2009:

domingo, 15 de fevereiro de 2009

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Apercebi-me um destes dias que pessoal da minha geração e da anterior, ponhamos as coisas assim, anda muito entretida no facebook, no twitter e noutras redes muito na moda. E que, entre jornalistas, até já se trabalha informação por essas vias.
Inscrevi-me no facebook há uns largos tempos, no twitter há um mês. Desisti de ambos. Dou comigo a pensar que isso me transforma num cota da cibercultura. Ter um blogue é hoje coisa de cota. Não me interessa a interacção das redes, não é para isso que aqui ando. Interessa-me o brinquedo, a possibilidade de. Quero dizer coisas e não quero que me chateiem, que me façam perguntas, que me "sigam", como no twitter. Escrevo ou publico coisas no blogue, como quero, quando quero. E até tenho comentários moderados - já repararam que os blogues com comentários moderados só publicam coisas com as quais concordam? O blogue foi ultrapassado por tudo o que se lhe seguiu. É hoje um meio de comunicação unidireccional. Eu escrevo, quem quiser que leia. A nada sou obrigado, a nada obrigo. Ao contrário, nas redes, é-se obrigado a interagir. Ora eu não quero interagir. Para isso, para aturar quem me sai na rifa, já tenho o dia-a-dia. De certa forma, no totalitarismo da sua forma, o blogue é o meu espaço de liberdade. É disso que gosto.

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Todos quieren vestir a Pe.
Todos? Há, de facto, momentos em que não me identifico com a maioria...

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É, certamente, mais uma peça para o estudo socio-politico-delirio-jornalístico do Caso Freeport. Pelos vistos, o caso é tão, mas tão, interessante que com ele nem uma anedota com piada se consegue fazer. Os parabéns podem ser dados aos senhores lá de baixo...


Sócrates: Freeport from Spam Cartoon on Vimeo.

[Directed by André Carrilho; Script by João Paulo Cotrim; Animation by Ana Nunes; Sound Design by José Condeixa.]

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A memória, sempre por caminhos inesperados, levou-me um dia destes a esta música.
Vou escrever sobre ela. Mas se, entretanto, alguém tiver alguma coisa a dizer...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

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Somos dois piratas nos mares do sul, navegamos por dentro um do outro.

Manuel Alegre, A Terceira Rosa, 1998

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

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[em reposição]



Robert Forster, Demon Days
from the 2008 album 'The Evangelist'


In these demon days
We’re pulling our pay
The lights on the hill
Are freezing us still
The fingers of fate
Stretch out and take
Us to a night
But something’s not right
Something’s gone wrong


The half whispered hopes
The dreams that we smoked
Puffed up and ran
As only dreams can
Dreamt by the young
Sparks to be sung
In places so bright
But something’s not right
Something’s gone wrong

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Por falar no céu de Lisboa...



Zona de Santos, ontem.

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Qui vit sans folie n'est pas si sage qu'il croit.



Mensagem (para os fiscais da Emel?) numa rua da cidade. Espelhado, em fundo, o céu de Lisboa, num dia carregado.

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Passei boa parte do meu Verão de 2007 a explicar a jornalistas, muitos deles "especializados" em tecnologias e informática, que NÃO, o programa e.escola não ia dar cabo do mercado... antes pelo contrário. Santa paciência...

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Eu hoje acordei assim *



* copyright

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Ainda mal tinha retirado a cartão e já a máquina me dizia: "É favor retirar o seu dinheiro". Acabei de retirar o dinheiro e a máquina insistiu: "É favor retirar o seu dinheiro". Sinceramente, não percebo tanto stress que por aí anda no ar.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

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Às vezes acontece-me. Uma palavra que me assalta, que me invade. Da qual não consigo libertar-me. Palavra incómoda. Ainda para mais, como é o caso, quando a palavra tem o sentido deturpado pelo uso e quando eu próprio não estou completamente seguro de que seja ela a mais adequada para definir aquilo de que falo.
Falo de bondade. Sim, bondade. Uma palavra talvez gasta pelas religiões e afins, hoje excessivamente kitsch para ser usada por alguém que se quer, ou julga, urbano e moderno.
Mas é o que tenho tentado usar nos últimos largos meses. Comigo e com os outros. Bondade. Acho que a descobri, a bondade, quando senti que o mundo estava a esquecer-se de a usar em relação a mim. Eu, que nunca tinha sentido a sua falta, quase ignorava a sua existência. O costume.
Ontem, tive de pegar no Houaiss para me garantir de que não estava errado. Bondade. Palavra substantiva (é bom), feminina (so what?), "qualidade de quem tem alma nobre e generosa, é sensível aos males do próximo e naturalmente inclinado a fazer o bem". É isso. Isso que tento.
[continua...]

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Os Camera Obscura têm disco novo em Abril. Em Abril, vão nascer-nos de novo as primeiras borbulhas. Vamos novamente dar o primeiro beijo. Jurar que é eterno o nosso primeiro amor. Fingir que não descobrimos que, por detrás das vozes mais angelicais e das orquestrações mais naive, não há o costume. O amor que se desfaz em lágrimas. As saudades que temos sem saber muito bem do quê. A realidade sempre mais crua do que gostaríamos. Em Abril, logo se vê.



terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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De novo o jornalismo (uma falsa polémica, post-scriptum)

Os escritos sobre jornalismo que editei neste blogue nas últimas semanas foram ditados por uma revolta enorme pela maneira como está a ser tratado o Caso Freeport.
Vivi outros dois casos - Moderna e Casa Pia - doutro lado da barricada e conheci muitos dos mecanismos com que "as coisas" se fazem. Assisti à criação da lama. Sei que os jornalistas não estão sozinhos nesta coisa. Mas lamento, lamento profundamente, que não haja em Portugal uma imprensa livre e responsável, em que as notícias sejam pensadas antes de irem para o papel. Que, como se sabe, absorve inocentemnte toda a espécie de porcaria que lá queiram colocar.
Posto isto, a não ser que algo excepcional me obrigue ao contrário, este blogue volta ao seu registo, cujo Estatuto Editorial pode ser lido aqui.

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De novo o jornalismo (uma falsa polémica, e 2)

Portugal tem um problema de base para os media, nomeadamente os escritos - a falta de mercado. Não existem hábitos de leitura e as televisões papam a publicidade toda.
Daí que o mercado esteja totalmente distorcido, ou, pior, nem seja possível falar de mercado.
Como é possível que se continuem a publicar jornais que dão prejuízo? Como é possível que, para crescer umas migalhas nas audiências e nas vendas, se invistam rios de dinheiro em marketing? Como é possível ter redacções com mais de 100 jornalistas (e falo em jornalistas apenas) para fazer jornais com médias de vendas nos 40 mil exemplares e sem publicidade que se veja?
Obviamente, as sinergias dentro dos grupos são uma das vias para a sobrevivência, a curto prazo, mas nada resolvem a médio ou a longo - a indiferenciação dos conteúdos conduz inevitavelmente à irrelevância do produto.
Outra das vias para sobreviver é inundar as redacções de jovens a ganhar o ordenado mínimo - são bem-mandados, mas, por mais estudos que tenham, falta-lhe quase tudo para fazerem jornalismo, uma profissão em que a experiência é determinante.
HG assegura-me que nunca houve nas redacções gente tão bem preparada. Do ponto de vista técnico, acrescenta. Até poderia concordar. Mas não é bem assim - a muitos desses ases da técnica falta-lhe um mínimo de cultura geral e cívica para saberem o que estão a fazer.
Façamos de conta - seguindo o exemplo do Mário Crespo... - que um bom jornalista da área da economia decide escreve sobre as grandes obras públicas (tem acontecido...). Conclusão inevitável (tem sido manchete): o país não tem capacidade financeira. Isto até é interessante, porque tal afirmação coincide com a agenda da oposição e, portanto, alimenta a polémica e vende (venderá?) jornal.
Mas isso é apenas uma pequeníssima vertente da questão. As estradas, por exemplo, não são meros incidentes financeiros e os famosos estudos custo/benefício têm de ter em conta uma multiplicidade e complexidade de aspectos que nunca vi abordados na Imprensa. Os estudos do Governo estão disponíveis (podem ser criticáveis...), mas nem um único jornal lhes pegou. Ou, em alternativa, nem um único jornal se preocupou em "levantar o cu da cadeira" e ir falar com autarquias, associações empresariais e outras, na tentativa de completar o grosseiro (e quantas vezes equívoco) retrato financeiro que traçaram.
E isto é um mero exemplo (que tentei descontextualizar tanto quanto pude...). Mas todos os dias vejo nos jornais informação (muito) errada sobre questões (muito) sensíveis. E todos os dias vejo assuntos tratados com excessiva superficialidade, mesmo leviandade, ao sabor dos sound bites de uns e outros, ou simplesmente ao sabor das "ideias" da pessoa com quem o director almoçou nesse dia.
É por isso que acho, e insisto, que o jornalismo português está hoje transformado numa insípida pastilha elástica, que se mastiga e deita fora, sem deixar marca ou causar consequências.
Um jornalismo assim não serve a democracia, que essa é, sim, a sua principal função.

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O El Pais online tem um interessantíssimo artigo sobre espionagem política e fabricação de provas. Se por cá faltarem "notícias", trata-se de uma excelente "fonte de informação" - basta mudar uns nomes e uns factos e dá... uma bela duma manchete.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

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O já famoso artigo de Mário Crespo, sendo de opinião, vale sobretudo por ser um espelho fiel do jornalismo português actual: um somatório de presunções, de diz-que-disse, de publicar antes de confirmar, de transformar a voz da rua em ciência exacta, de misturar simples piadas com coisas sérias, de insinuar tudo e nada provar, de tentar provar o improvável pela quantidade não pela qualidade, do império do engraçadismo, da dispensabilidade do bom senso, da deontologia apenas nos dias pares, do ajuste de contas permanente não importa com quem, da irresponsabilidade.

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Não sou muito dado a estas coisas dos prémios, mas agora que o disco de Robert Plant e Alyson Krauss arrasou nos Grammy aproveito para recordar uma canção de Raising Sand que publiquei no blogue em 28 de Outubro de 2007. Raising Sand é uma daquelas pérolas improváveis que acontecem uma vez na vida. Enjoy...


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[O jornalismo que temos - exemplos de hoje]


Página 15 do 24 Horas, letras garrafais: Professor matou irmãos à facada
Página 15 do 24 Horas, letras pequeninas: Duplo homicídio em padaria começa a ser julgado amanhã

Página 12 do Correio da Manhã, letras garrafais: Funcionário desvia 98 mil euros da câmara
Página 12 do Correio da Manhã, letras pequeninas: os factos ocorreram entre 1998 e 2002 e o julgamento está (ou estará, o jornal não esclarece) a decorrer

Página 13 do Jornal de Notícias, letras garrafais: Matou amigo de 15 anos ao exibir-se com a arma
Página 13 do Jornal de Notícias, letras pequeninas: Jovem começa a ser julgado quinta-feira por homicídio ocorrido em 2004

Apenas três exemplos de jornais de hoje. Quem se ficar pelos títulos fica com a ideia de que estamos num país a saque. Quem tiver tempo para ler os textos percebe que se trata de mera estratégia comercial, disfarçada de notícia, para vender papel.
Nos mesmos jornais em que alguns eventos, do Governo, por exemplo, não são noticiados sob a alegação de que são re-apresentações, ou coisas do estilo. Nos mesmos jornais em que os lançamentos de obras e inaugurações são tratados editorialmente como propaganda, só porque quem os faz "volta ao local do crime".

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De novo o jornalismo (uma falsa polémica, 1)

A Helena Garrido (boa amiga e camarada de uma aventura de boa e má memória...) julga que tem pontos de vista diferentes dos meus sobre o estado do jornalismo.
Por isso, em resposta ao que escrevi aqui, aqui, aqui e aqui, respondeu aqui, aqui, aqui e aqui.
Como à frente se verá, não tenho muito a comentar ao que HG escreve. Insisto, as divergências são mais aparentes que reais.
Dito isto, dois pontos prévios:
- eu e a HG partilhámos durante muitos anos a mesma profissão, mas hoje estamos em lados opostos (antagónicos) da barricada. Não vale a pena fingir o contrário.
- tudo o que escrevi baseia-se (como diz o outro...) em casos reais e poderia dar mais do que um exemplo para cada afirmação que fiz. Não o vou fazer, por motivos de ordem ética. Muitos dos exemplos seriam retirados da minha experiência profissional recente e parece-me completamente descabido, nada ético e desleal utilizá-los num debate público.

Mas é por um exemplo real que quero começar. Precisamente por aquele que HG começa por apontar: "Há no caso Freeport informação nova que foi descoberta por jornalistas. Exemplo: José Sócrates estava no grupo de suspeitos".

Excelente exemplo, pela negativa. A história de José Sócrates como suspeito tem barbas. Remonta à campanha eleitoral de 2005, com base numa carta anónima e numa falsa investigação da PJ; deu origem a um processo judicial; e, na prática, é uma das maiores vergonhas do jornalismo português das últimas décadas (a conspiração que deu origem ao caso teve a participação de jornalistas e a publicação de tal inventona em plena campanha eleitoral é apenas uma das milhares de páginas negras de um semanário felizmente já extinto - vidé resumo da história aqui).
Foi com base nessa história que a justiça portuguesa enviou para Londres, nessa altura, uma carta rogatória em que José Sócrates era apontado como suspeito, e foi com base nessa carta rogatória que a justiça inglesa respondeu agora, anos depois, com outra carta rogatória vastamente difundida pelos media, na qual reproduz a informação que a justiça portuguesa entretanto deixou cair.
Isto mesmo, incluindo as razões pelas quais Sócrates deixou de ser suspeito, já foi explicado vezes sem conta pela procuradora que actualmente tem o caso em mãos. No entanto, os jornais (com raras excepções...) preferem criticar a procuradora, antes sequer de ouvirem o que ela diz.
Jornalismo isto?

[continua]

domingo, 8 de fevereiro de 2009

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«When we were doing all that comedy we thought, 'The world is so stupid and so mad that if we make fun of it, it'll improve.' It didn't. It never, ever does»

John Cleese, 2001

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E tu, do que estás à espera para assinar a petição?

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Títulos do caraças:

BE quer derrotar a maioria absoluta do PS

sábado, 7 de fevereiro de 2009

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http://aterceiranoite.wordpress.com/2009/02/06/o-socialismo-cientifico-tem-visoes/

http://bichos-carpinteiros.blogspot.com/2009/02/novas-do-bloco.html

http://causa-nossa.blogspot.com/2009/02/titulos-alternativos.html

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das pequenas grandes fraquezas que posso confessar em público, a de me emocionar com os la-la-la, as canções de título what love can do, refrões como i'm love with the queen of the supermarket, baladas que são sempre iguais, enfim, a de me emocionar com cada novo disco de bruce springsteen. é superior a mim. e hoje percebi que o gajo faz 60 em setembro, o que quer dizer que eu próprio já não andarei longe.

PS: Working On A Dream é o melhor disco do boss em muitos anos. Um vintage retro. Não compreendo, por isso, a avareza de estrelas e outras pontuações que por aí vejo. Diz que está cansado... cansados parecem-me esses que o ouvem.

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comprar lingerie, eu?

















eu, com a lingerie, sou como algumas mulheres com as montras: passo, vejo, passo, volto a passar, mas nunca entro
chegados aqui, à esquina do trocadilho, o melhor é passar a palavra

nada disso nos serve se não nos oferecerem, nas horas imprevistas em dias de coisa nenhuma, a nossa sobremesa favorita, um livro, ou uma bagatela pirosa com corações. Se não nos telefonam a despropósito só para saber o que comprámos no supermercado e se nos apetece um beijo. O que gostamos mesmo, e nos dá vontade de lingerie, é de saber que pensam em nós, a propósito de nada ou de qualquer coisa, um monte de vezes ao dia.

[um blogue com umas séries bem interessantes]

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O debate (e 2)

É neste contexto que não entendo o "debate" no interior do PS.
Vejamos.
O PS está hoje no poder, com maioria absoluta, pela primeira vez desde a fundação da democracia.
A eleição do actual líder foi uma das mais clarificadoras da história do partido - um certo esquerdismo alérgico ao poder versus o pragmatismo de raiz soarista (o homem que meteu o socialismo na gaveta, quando foi preciso). A discussão foi acesa, mas a vitória foi clara.
Quatro anos passados sobre a obtenção da primeira maioria absoluta, o PS lidera (nunca deixou de liderar) todas as sondagens, sendo que uma análise fria e distanciada permite perceber que a repetição desse feito está perfeitamente ao alcance.
Foram quatro anos em que o único partido capaz de disputar o governo com o PS já teve de mudar de líder três (!) vezes.
E isto acontece mesmo depois de o governo saído dessas eleições ter afrontado vários interesses instalados da sociedade portuguesa e ter posto em marcha reformas, cujos resultados só se sentirão daqui a anos, mas cujos custos políticos são pagos à cabeça.
E isto acontece após quatro anos de governo em que, apesar do pragmatismo, são evidentes as marcas genéticas do partido nas políticas e nos resultados.
E isto acontece mesmo num cenário de profundas alterações do contexto (económico, por exemplo) e de clara e generalizada hostilidade dos media.
Nestas circunstâncias, o que querem mesmo debater?

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O debate (1)

Um das discussões mais estéreis da política portuguesa é a que envolve a falta de debate interno nos partidos.
Acontece sempre que um atinge a maioria absoluta (Cavaco secou o PSD, Sócrates secou o PS...). Mas no PS nem é necessária maioria absoluta. Veja-se a balbúrdia no grupo parlamentar no tempo de Guterres.
Ora trata-se de uma discussão completamente sem sentido.
Os partidos já não são (tê-lo-ão sido em tempos remotos...) os centros privilegiados de debate. Os partidos são simplesmente máquina de obtenção de poder (interno e externo). E só marginalmente o poder se alcança através das ideias. Vivemos num mundo em que a aceleração e imprevisibilidade é tal que não faz qualquer sentido escolher um partido pelas suas ideias, as suas soluções, para o mundo e a vidinha.
Hoje, votamos mais em pessoas do que em ideias. E o voto é cada vez mais circunstancial e determinado por factores subjectivos (imagem, comunicação, imagem, comunicação...) do que objectivos.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

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Abomino a grande mentira. A mentira que prejudica. A mentira criada para escapar à censura de terceiros. A mentira como modo de vida. No fundo, isso - a mentira como modo de vida.
Mas gosto de brincar às pequenas mentiras. As que não prejudicam ninguém. A coisa puramente lúdica.
Às vezes tenho alguma dificuldade em que me percebam nisto. E eu próprio tenho alguma dificuldade em traçar linhas divisórias. Mas a vida é isso mesmo. O risco. E a dificuldade em o situar.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

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Há seis meses, no Alentejo profundo, uma estrada meio rural rasgou-me os dois pneus do lado direito. Esta semana, numa não menos profunda cratera com que a Câmara de Lisboa agradece os impostos que lhe pagamos, estoiraram os dois pneus do lado esquerdo. Metaforicamente, em seis meses, fiquei apeado, sem fôlego.
É nestas alturas que tenho pena de não ser místico ou simplesmente religioso - alguma razão, ou aviso divino, haveria de me inquietar ou sossegar.
Assim, sem misticismo, limitei-me a desembolsar quase 300 euros de cada vez. Tudo muito terra-a-terra, sem grande dignidade ou elevação.

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Artigos que todos os homens (ou quase) deveriam ler.






















The Secret World of Lingerie Explained

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

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Sonho erótico levemente pimba

Estava na tua cama com ela.

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Gostava de ter escrito isto:

«Quando a oposição é frágil - como é actualmente no nosso país - os media tendem a assumir o papel da oposição. É uma reacção natural, em todo o mundo e em todas as circunstâncias»

«Sabemos que [o caso Freeport] foi destilado gota a gota por alguma comunicação social, muito preocupada com as vendas e as audiências»

«Isto é pura e simplesmente o resultado de uma assunção pelos media de uma responsabilidade de oposição»

«O nosso sistema judicial é muito tolerante para com os media, temos de chegar a um momento em que os media respondam perante o país»

«Deus nos livre! Um primeiro-ministro demitir-se por factos falsos e artificialmente criados. Era o que faltava».

Correia de Campos, 4 Fev 09

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

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Don't Let It Bring You Down

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Gostava de ter escrito isto:

Manual de instruções para campanhas negras.

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A Rolling Stone, sendo um dos rostos do liberalismo americano, é simultaneamente uma das revistas mais conservadoras do mundo.
Politicamente, aquilo a que na Europa chamamos de "esquerda" pode contar sempre com a RS. Nas últimas eleições, fizeram duas capas quase seguidas com Obama...
Mas a abordagem musical - e a RS é essencialmente uma revista de música - é do mais conservador que imaginar se possa. Basta espreitar as listas de melhores discos, cantores, etc, etc que de vez em quando fazem para o constatar. Mas nisso, nessa perenidade dos valores essenciais do pop-rock, é insubstituível.

Isto tudo só para dizer que a capa da última edição é mais um (!) objecto de colecção.


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Viver um dia de cada vez. Aproveitar o momento. Fatal falácia. Somos, essencialmente, passado. Tudo o que acumulamos ou transportamos nos pesa, ou nos torna leves. E somos futuro. Cada gesto, intencional ou não, projecta-nos para um devir, próximo ou longínquo. O momento, o viver um dia de cada vez, é uma impossibilidade. Um consolo.

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O erro só existe quando dele tomamos consciência. Eis um dos problemas com que me tenho confrontado - digo que erraste, mas tu não sabes que erraste, logo não erraste. O diálogo complica-se, então. Daí à impossibilidade é um pequeníssimo passo.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

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A morte do jornalismo (4 e fim)

E estamos condenados a esta miséria?
Sinceramente, acho que sim.
Podemos, no entanto, tentar melhorar algumas coisas. Pequenos passos. Por exemplo, tornar obrigatória a leitura deste livro a todos os que ponham o pé numa redacção. Talvez pouco lhes fique na cabeça, mas não podem dizer que não foram avisados.























Os mais preguiçosos podem ficar pela contracapa, onde se lê:

The elements of journalism are:
* Journalism’s first obligation is to the truth.
* Its first loyalty is to citizens.
* Its essence is a discipline of verification.
* Its practitioners must maintain an independence from those they cover.
* It must serve as an independent monitor of power.
* It must provide a forum for public criticism and compromise.
* It must strive to make the significant interesting and relevant.
* It must keep the news comprehensive and proportional.
* Its practitioners must be allowed to exercise their personal conscience.


Nota: a capa que está ali em cima é da edição americana de 2008, devidamente actualizada. Para os mais preguiçosos e analfabetos, há uma versão portuguesa da edição anterior (procurem-na, não esperem que faça eu tudo...). É melhor que nada!

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Hasta Pública

Entregamos a quem der melhores garantias de boa utilização alguns dossiers encontrados numa garagem da Aroeira. Damos preferência a utilizações em cadeia, por exemplo, a propostas conjuntas entre um jornal e uma televisão. As melhores propostas, além de poderem utilizar os materiais agora à disposição, passam à segunda fase, durante a qual colocaremos à disposição os famosos e exclusivos caixotes do sótão da Aroeira.

1. Caderneta completa dos cromos da primeira série do Espaço 1999, incluindo o famoso e raríssimo cromo 39 (o do Spock com a orelha descaída). Fornecemos em anexo testemunhos de dois amigos de infância dispostos a garantir, mesmo sob ameaça, que o cromo 39 era virtualmente impossível de obter, a não ser recorrendo a métodos pouco ortodoxos. Temos ainda uma carta da Panini a confirmar que, de facto, nem nos seus arquivos existe qualquer exemplar do cromo 39 (Nota: a Panini ainda não existia quando os factos ocorreram, pelo que não se aconselha o recurso a cronologias). Noutro anexo, pedopsiquiatras com provas dadas (vidé Casa Pia) garantem a pés juntos que o "o cromo 39 não é apenas o cromo 39, é uma tendência genética".

2. Fotos de um indivíduo de cabelo ligeiramente grisalho, fatos Armani (provavelmente comprados numa famosa fábrica da Serra de Aire) e pose elegante. Tem sotaque siciliano. Fornecemos em complemento um DVD (sem imagem, mas com bom som), gravado por um vizinho, em que se ouvem claramente as expressões "Colete Encarnado", "pega de caras" e "animal luzidio". Do dossier consta uma ficha de uma força policial inglesa cujos peritos relacionam, sem margem para dúvidas, aquelas expressões com "Alcochete", "ZPE" e "isso vai custar-te um prato de tremoços". Noutro anexo, uma folha de um processo a correr na comarca do Seixal trata o indivíduo como "sósia".

3. Entrevista concedida ao jornal "El Suel", de Bogotá, por um trabalhador de uma firma de sucata de pneus da Margem Sul, actualmente a viver sob identidade falsa na Bolívia, na qual são relatadas movimentações estranhas de carros de alta e baixa cilindrada, em 1993, na A12 (em 1993, ainda não havia A12, pelo que se recomenda a omissão da data, ou da estrada em concreto). Do dossier consta uma troca de mails entre o funcionário da sucata e o seu patrão, em que a certa altura se pode ler "agora, depois do que viste, ou te meto num bidão de cimento ou te mando para Buenos Aires". Fornecemos, a título completamente gratuito, sugestão de uma maquete de uma dupla página de jornal, em que ficam perceptíveis as ligações existentes entre o patrão da sucata, uma secretária do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o Lee Rodrigues (que ainda não tinha entrado nesta história) e várias aves protegidas das Salinas do Samouco. Nota: a dupla página tem obrigatoriamente que ser impressa a cores.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

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Benjamin Biolay et Chiara Mastroiani - Folle de Toi

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A morte do jornalismo (3)

Acresce ao que já se disse o facto de hoje em dia as redacções serem uma espécie de voz do dono.
Trata-se de um facto relativamente recente, pelo menos na forma generalizada em que actualmente se apresenta.
É claro que os media têm patrões e que, por isso, de alguma forma sempre cederam a ser porta-vozes dos interesses de quem paga e manda. Mas isso era, no passado, a excepção. Acontecia uma vez por outra, causava desconforto e, normalmente, não era feito da forma escancarada como acontece hoje.
Os jornalistas, a começar pelos directores, assumem frequentemente as dores e os apetites do patrão.
Por um lado, na luta entre grupos de media, seja através da supervalorização de notícias e personalidades do grupo, seja pela exclusão das dos grupos adversários. Em alguns casos, de forma ligeira, noutros, à bruta. Às vezes, basta a secção de "bocas" para escarnecer o adversário, noutros casos, chega-se à manchete.
Mais recentemente - e precisamente porque se abrira o caminho através da luta inter-grupos - os media alinham com os patrões nos seus negócios e opções políticas ou outras.
Os media passaram a conciliar aquilo que acham ser o jornalismo na sua acepção clássica com uma postura grupal mais ou menos declarada.
E nisto, como no resto, o que custa é abrir a porta. Com ela aberta, é fartar vilanagem.
No caso Freeport isso tornou-se evidente, mesmo para quem ainda tinha algumas dúvidas.

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Dias terríveis. O vento limpa, purifica, leva para longe as poeiras, os rumores, o cheiro da podridão. Mas logo vêm as enxurradas, a chuva copiosa. E fica novamente tudo coberto de camadas de lama.

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A morte do jornalismo (2)

Parte do problema, mas apenas parte, está a montante.
Penso que as pessoas responsáveis e respeitáveis - sejam eles empresários honestos ou simples donas de casa sensatas - não comprariam jornais nem veriam televisão em Portugal, se alguma vez tivessem a oportunidade de conversar durante meia hora com duas ou três pessoas das que fazem as notícias.
As redacções portuguesas estão hoje repletas de gente profundamente impreparada. Jovens mal pagos, com canudo mas sem experiência, e, principalmente, sem qualquer noção do que andam a fazer. Do papel que os media devem desempenhar nas democracias modernas.
E não se pense que isto se aplica apenas aos jovens estagiários. Nada disso. Pela escala acima, incluindo editores e mesmo directores, é uma desgraça. Não é apenas o factor juventude - embora também o seja -, mas acima de tudo o factor cultura. Cultura, no sentido mais lato do conceito, mas também mera cultura jornalística. E cultura cívica, principalmente.