segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

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De novo o jornalismo (uma falsa polémica, 1)

A Helena Garrido (boa amiga e camarada de uma aventura de boa e má memória...) julga que tem pontos de vista diferentes dos meus sobre o estado do jornalismo.
Por isso, em resposta ao que escrevi aqui, aqui, aqui e aqui, respondeu aqui, aqui, aqui e aqui.
Como à frente se verá, não tenho muito a comentar ao que HG escreve. Insisto, as divergências são mais aparentes que reais.
Dito isto, dois pontos prévios:
- eu e a HG partilhámos durante muitos anos a mesma profissão, mas hoje estamos em lados opostos (antagónicos) da barricada. Não vale a pena fingir o contrário.
- tudo o que escrevi baseia-se (como diz o outro...) em casos reais e poderia dar mais do que um exemplo para cada afirmação que fiz. Não o vou fazer, por motivos de ordem ética. Muitos dos exemplos seriam retirados da minha experiência profissional recente e parece-me completamente descabido, nada ético e desleal utilizá-los num debate público.

Mas é por um exemplo real que quero começar. Precisamente por aquele que HG começa por apontar: "Há no caso Freeport informação nova que foi descoberta por jornalistas. Exemplo: José Sócrates estava no grupo de suspeitos".

Excelente exemplo, pela negativa. A história de José Sócrates como suspeito tem barbas. Remonta à campanha eleitoral de 2005, com base numa carta anónima e numa falsa investigação da PJ; deu origem a um processo judicial; e, na prática, é uma das maiores vergonhas do jornalismo português das últimas décadas (a conspiração que deu origem ao caso teve a participação de jornalistas e a publicação de tal inventona em plena campanha eleitoral é apenas uma das milhares de páginas negras de um semanário felizmente já extinto - vidé resumo da história aqui).
Foi com base nessa história que a justiça portuguesa enviou para Londres, nessa altura, uma carta rogatória em que José Sócrates era apontado como suspeito, e foi com base nessa carta rogatória que a justiça inglesa respondeu agora, anos depois, com outra carta rogatória vastamente difundida pelos media, na qual reproduz a informação que a justiça portuguesa entretanto deixou cair.
Isto mesmo, incluindo as razões pelas quais Sócrates deixou de ser suspeito, já foi explicado vezes sem conta pela procuradora que actualmente tem o caso em mãos. No entanto, os jornais (com raras excepções...) preferem criticar a procuradora, antes sequer de ouvirem o que ela diz.
Jornalismo isto?

[continua]

1 comentário:

  1. Como consumidor cada vez mais involuntario de media entendo as posições da HGarrido mais como justificativas de uma lógica interna que propriamente preocupada com a vertente externa, ie, com o público que compra o produto.
    A verdade é que cada vez mais pessoas não acreditam na informação que são veiculadas pelas marcas de Media, julgo mesmo que os os títulos dos jornais/meios se assemelham hoje mais a um slogan de um produto e que a informação incorpora cada vez mais técnicas oriundas da publicidade, com textos cujo valor informativo é practicamente nulo.
    É trágico que muitos jornalistas não tenham consciência do momento, do que se está a passar e da contínua descredibilização que os afectam.

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