sábado, 31 de janeiro de 2009

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A morte do jornalismo

Um dos aspectos mais curiosos da cobertura jornalística do caso Freeport é a demissão total dos jornalistas (era capaz de voltar aos bancos da faculdade só para estudar o fenómeno a fundo...).
Tudo é publicado e republicado, permanentemente, sem qualquer filtro. Os jornais citam as televisões, que citam as rádios, que citam os jornais, que citam as televisões. E o que citam eles? Tudo. Rigorosamente tudo. Porque tudo é publicado. Não há qualquer investigação jornalística, um mero cruzamento de dados, de declarações. Tudo o que chega às redacções, seja por que via for, vai imediatamente para o papel ou para o ar.
Há um claro efeito de amontoamento, como já assinalei aqui.
Mas há algo bem mais curioso e muito, mas muito mais, perigoso.
É como se as redacções dos jornais, tv e rádios tivessem de repente ficado sem directores ou editores. A funcionar em roda livre. Sem filtro, insisto. Como se todos estivessem permanentemente em directo, ou como se todos os media fossem um Forum TSF ou Opinião Pública, em que tudo é permitido. O directo, como vários teóricos já escreveram, é uma espécie de não-jornalismo. Agora imagine-se um directo quase permanente (e o conceito aplica-se também aos jornais).
Uma das funções mais nobres do jornalismo - a par da investigação - é a selecção do que se publica. Há manuais e manuais sobre isso. Os Livros de Estilo dedicam páginas e páginas aos modos de o fazer. Enquanto peça fundamental na engrenagem do sistema democrático, os media têm uma responsabilidade insubstituível no modo como a informação circula. E só deve circular a informação relevante, credibilizada pela aplicação das mais elementares regras do jornalismo.
A publicação de tudo, sem critério, é a negação do jornalismo.
E nunca como agora se assistiu a uma tão assustadora demissão do jornalismo. O pior é que a maioria dos jornalistas está convencida do contrário.

4 comentários:

  1. Acertaste na "mouche".

    IG

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  2. Não penso que estejam convencidos disso,eles querem-nos é convencer disso.
    Mas para eu me convencer disso primeiro era preciso convencer-me que era preciso convencer-me disso.
    É o que eles fazem.

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  3. Excelente J.M.F. É necessário recuperar o nobre papel da C.Social no regime democrático. Há pasquins irrecuperáveis; mas os Bons Títulos e os Bons Jornalistas não podem deixar arrastar-se para a mediania em que nos encontramos. E a estes cabe-lhes marcar a diferença para relativizar a importância daqueles. Gostaria de voltar à ansiedade de ler o PÚBLICO para conferir as minhas opiniões. É que já há muito que o não faço. Limpemos a estrumeira em que isto tudo se transformou!!

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  4. Os media portam-se como blogues! Shocking! ;)

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