quarta-feira, 28 de julho de 2010

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não tenho seguido com o desvelo que a coisa eventualmente mereceria os famosos textos do professor ramos, novo tutor da (boa) memória de salazar. nada que não se tenha resolvido com meia hora de praia e o suplemento actual do expresso (reparo agora que o dito cujo perdeu o c é atual... embora a capa seja dedicada ao tal do salazar, um fulano que bateu a bota faz agora 40 anos. talvez que atual pretenda ser o tal artigo do professor ramos).

a coisa resume-se facilmente. o homem gostava de governar (manias...) e tinha a mania que só ele e à volta dele se podia servir a pátria. o professor ramos dá mesmo alguns exemplos de pessoas que abdicaram dos seus ideais para servir a pátria ao lado de salazar (touching!). e o homem nem era tão mau como o pintam, embora o próprio professor ramos reconheça a existência de censura, tortura e coisas assim. mas, garante, era tudo preventivo - do tipo 'vou dar-te uns açoites, antes que te aleijes a ti próprio'. mas, dizia, o homem não era assim tão mau, de tal jeito que, garante o professor ramos, como que recriando a pólvora, nem foi ele que inventou o colonialismo.

um dos aspectos mais pitorescos do artigo do professor ramos é, porém, a insistência em desculpar o das botas com o muito mau que havia antes e (isso ele não diz, mas presume-se) o que se lhe seguiu. pois, o salazar e tal, mas antes dele era o caos. acham que ele era pouco democrático? haviam de ver como era antes dele... pitoresca é ainda a ideia dos grandes avanços económicos, quiçá civilizacionais, alcançados nesse tempo. como se a realidade, a história, não nos demonstrem exactamente o contrário.

no fim, e a propósito do fim propriamente dito, resulta um personagem que tem mais de patético do que de ditador. é patético percebermos abstracção do mundo a que o ditador se dedicava no afã do imobilismo em proveito próprio. patético.

[texto do professor ramos aqui, num blogue apropriadamente chamado portugal dos pequeninos]

2 comentários:

  1. Joáo, já experimentou ler a História de Portugal coordenada pelo R. Ramos ou a biografia do D. Carlos? Quanto ao patético - do pathos clássico - julgo que o João está presentemente mais habilitado a falar disso do que ninguém. Abraço.

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  2. Essa de não ter sido ele a inventar o colonialismo e de antes ter estado tudo muito pior é de gritos... por isso podemos todos começar a culpar a desmilitarização da alemanha e a desvalorização do marco, e um pouco mais a sul a marchazinha "tengo la camisa negra" e quiçá uns comités de bandeira vermelha que nacionalizaram tudo, na mãe rússia. e o pior é que podemos mesmo culpar a primeira república. Mas não com o tom desculpabilizador-salazarento do professor ramos. é o velho problema dos historiadores/pensadores de direita: com a mania revisionista acabam por produzir frases... "redículas"

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