terça-feira, 2 de junho de 2009

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João Lopes escreve aqui o mais importante texto dos últimos tempos sobre o estado do jornalismo em Portugal. Retenho três ideias.

1. A herança do Independente:

Qual é, então, a herança de O Independente? Podemos resumi-la através do triunfo de três novos valores:
1 - A vocação policial do jornalismo: a investigação jornalística passa a ser entendida como um exercício equivalente a um inquérito policial, desse modo exponenciando uma mentalidade social de "denúncia".
2 - O jornalismo como tribunal popular: a investigação desemboca num processo mais ou menos espectacular de exposição pública de "culpados", convidando-se implicitamente o leitor/cidadão a participar num julgamento automático dos investigados (isto é, dos protagonistas das notícias).
3 - O anedótico como complemento "inocente" da informação: tudo e todos são sempre susceptíveis de serem reduzidos à pura irrisão, confundindo-se a generalização pueril da caricatura com a transparência informativa e social.

2. A "doença" do infantilismo:

Ora, sabemos que discutir o jornalismo como sistema de linguagens é uma hipótese directa ou implicitamente rejeitada pela maioria dos jornalistas televisivos — para eles, uma câmara à frente seja do que for é uma garantia automática e indiscutível de "verdade". Vale a pena recordar-lhes que a cultura cinematográfica combate esse infantilismo estético há mais de um século.

3. O fundo da questão (que, a meu ver, ultrapassa a circunstância mediática):

O que está em jogo é infinitamente mais fundo e mais perturbante: tem a ver com a mediatização sistemática, isto é, com a promoção pública de uma vida social baseada na desconfiança, na insinuação e, em última instância, no quotidiano menosprezo pela mais básica dignidade humana — afinal de contas, temos uma paisagem televisiva com protagonistas e decisores que aceitaram ser contaminados pela degradação de valores promovida pelo Big Brother e, genericamente, pela grosseria de muitos reality shows.

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