segunda-feira, 16 de março de 2009

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O "Magalhães" é o maior assassino da leitura em Portugal, António Barreto, revista Ler, Março de 2009.

Quando eu era puto, passava os invernos dentro das lareiras dos meus avós. Vocês, se calhar, não estão a ver - eram daquelas lareiras enormes, que começavam no chão, iam até ao tecto, e dentro das quais cabia a família toda à volta da lenha que crepitava.
Pois eu, o que gostava nesses invernos era de me meter na lareira a ver a lenha crepitar, a adivinhar os sulcos de fogo que cada tipo de madeira desenhava. Não havia televisão, nem sequer havia luz eléctrica. Só o crepitar aconchegador da lenha.
Naquele tempo, a lareira era o maior assassino da minha leitura. E olhem que já tinha mais que idade para o Sandokan.
Os livros vieram mais tarde, e não, não li nem o Hegel, nem o Camus, nem o Sartre antes de tempo. Nunca li o Guerra e Paz (hei-de ler, digo eu, talvez noutra lareira...). Mas li muito daquilo de que ainda gosto muito - o Eça, os americanos (Mailer, Miller, Fitzgerald...), o Moravia, o Lampedusa e mais uma data deles. Até os calhamaços de uma edição lux dos Miseráveis (talvez tenha sido atraído, precisamente, pelos dourados da capa de um livro chamado Miseráveis...).
Não sei quando comecei a ler assim. Sei que já não havia lareira, essa assassina.

3 comentários:

  1. é triste mas compreensível..., o homem parece que ainda hoje se baralha a atender o telemóvel...

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  2. Na realidade nem sei como sobrevivemos sem Barreto ao nosso lado para combater os inimigos da leitura de então. Para além da sua lareira, enfrentei monstros terríveis: jogos intermináveis de berlindes, futebol, monopólio, corridas de carrinhos da Dinky Toys, corridas de bicicleta...

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  3. Aliás, foi exactamente por causa do Magalhães durante as décadas do pós-guerra, passando pelo 25 de Abril e chegando até, digamos, há uma década atrás, que os índices de leitura em Portugal eram elevadíssimos e os níveis de ileteracia praticamente inexistentes...
    Grande barret(e)o.

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