um dia destes, um senhor importante da igreja católica portuguesa veio pedir aos políticos que dessem parte do seu ordenado, mais precisamente um quinto, aos pobres. não percebi a razão pela qual o senhor importante da igreja pediu precisamente aos políticos, mas a verdade é que eu normalmente não percebo grande parte do que diz a igreja católica, portuguesa ou não. fiquei, no entanto, com a ideia de que os pobres ficariam a ganhar se o tal senhor da igreja tivesse pedido dinheiro a outras pessoas, talvez aos empresários, pequenos, médios e grandes, que desculpam os seus pecados na missa dos domingos de manhã.
mas o que o senhor importante da igreja católica disse teve grande eco na comunicação social, especialmente nas televisões. as declarações do tal senhor repetiram-se, ouviram-se outros senhores, uns mais importantes que outros, e até o povo da rua: que sim, que pagassem os políticos, que eles, os populares, ou não têm para dar, ou dão mas não gostam que se saiba.
lá tivemos, então, a romaria do costume nas televisões. desta vez, só não entrevistaram pobres, se calhar por razões deontológicas (imaginem!), nem deram aquelas estatísticas sempre tão assustadoras. se calhar, não há estatísticas, ou as que há não agradam. é claro que os profissionais da caridade lá vieram dizer que sim, que a coisa está cada vez pior. há séculos que os ouço dizer isto - afinal de contas, eles têm uma missão para proteger.
e as televisões lá deram, nos mesmos noticiários, os saldos que este ano estão um espectáculo, as sugestões de férias e restaurantes que enchem o espaço deixado vazio pelas notícias que não há, e os centros comerciais que se enchem todos os dias e até são estudados por sociólogos.
os pobres, para o senhor importante da igreja e para os media, apenas servem para ganhar audiência. mas em doses moderadas, que ninguém gosta de ser visto com eles, os pobres.